Pederneiras em 1928
Trecho do Livro “Jahú Mirim” de autoria de Lola de Oliveira, poetisa e escritora gaúcha que descreve minuciosamente o território do Município de Pederneiras em 1928 a bordo do “Jahú Mirim”, dando-nos uma idéia das características da cidade e arredores na época. Transcrito do semanário “Comarca de Pederneiras” de 1º de Julho de 1928.
“Continuo em marcha. É o meu terceiro dia de viagem. Sigo acompanhando a linha Paulista. Guaianás, povoaçãozinha, surge a poucos minutos de vôo.
Começam a aparecer as grandes plantações de algodão, mamona, bananais extensos, pequenas lavouras de cana. De quando em quando descubro casas de colonos, ranchinhos de sapé por entre os laranjais.
Dou mais energia ao “Jahú Mirim” e Pederneiras desvenda-se em meio aos seus esplendidos cafezais.
Antes de visitar a cidade voei sobre o vasto município que em extensão de vinte léguas de comprimento por seis de largura, sendo um dos maiores do Estado. Fica situado entre os municípios de Agudos, Bauru, Jaú, Dois Córregos e Mineiros, aos quais é ligado pela Estrada de Ferro Paulista e várias estradas de rodagem.
O solo feracíssimo, a 507, m20 de altitude, predominando a terra roxa, produz admiravelmente o café, o algodão, a mamona.
Pelo binóculo diviso muito ao longe o distrito de Iacanga, rico em criação de gado vaccum. Ao longo também no Rio Tietê o Porto de Carapina.
Sobre as margens do rio paulista que neste ponto tem 350 metros de largo, vicejam os “príncipes”, delicadíssimas flores.
Nas barrancas vi a terra que depois se transforma nas excelsas telhas francesas de que Pederneiras possui uma enormissima fábrica.
Voejo sobre os cafezais das quatrocentas fazendas do município, das quais as maiores são: a Fazenda Santo Inácio, de D. Amélia Salles Romeiro; a Fazenda Santa Lucia, do Dr. Joaquim de Salles; a Fazenda Itaúna, do Dr. Flaminio Ferreira de Camargo; (além) das do Sr. João Sbragia, a do Sr. Benedicto Antonio da Cruz, a do Sr. José Pedro Xavier, a do Sr. Rodrigues Braga, a do Dr. Ariosto Amaral.
Paro alguns minutos sobre uma fazenda mixta: café e criação: Fazenda Figueira, de propriedade do Cel. João Baptista Pereira, vejo belos espécimes das raças caracu, zebu, flamenga, mestiça e simenthal sobre os duzentos alqueires de terra cobertos de capim fino, capim gordura e jaraguá.
Pederneiras é também um município pastoril e ocupa o oitavo lugar na indústria pecuária do Estado.
Encaminho-me para a cidade. No alto domina-a toda o belo Grupo Escolar, edifício de construção moderna e que custou ao governo a soma de 240 Contos de Réis. O Grupo, instalado a 29 de abril de 1920, teve como seu primeiro diretor o ilustrado professor piracicabano, Sr. Antonio de Arruda Ribeiro.
Pelo binóculo observo entre a casaria avermelhada pela terra roxa os edifícios da Delegacia de Polícia, a Santa Casa, o Matadouro, o Cinema Ideal, a Loja Maçônica “Deus e Caridade”, a igreja matriz, a estação da Companhia Paulista, por onde passam diariamente vinte e quatro trens.
Conduzo o “Jahu-Mirim” a uns minutos do centro da cidade para ver de mais perto o Castelo Furlani, construido pelo seu proprietário, o distinto agrimensor Sr. Fausto Furlani.
O castelo é originalíssimo com suas variedades de estilo e a enorme torre de 36 e meio metros de altura. É rodeado de cinco varandas. Possui luz elétrica própria, água canalizada quente e fria e três telefones nos seus três andares. Rodeiam nos jardins, pomares de frutas finíssimas e pequeno cafezal.
Digno de ser visitado é o Castelo Furlani.
Levanto mais alto o vôo e singrando o céu paulista deixo o riquíssimo município de Pederneiras.
Na Estação Airosa Galvão, sobre o rio Tietê, desliza, na ponte metálica de 400 metros, o trem da Paulista.
Acelero mais a marcha, cortando cafezais sobre cafezais, alguns pertencentes aos municípios de Jaú e Mineiros e avisto logo após a torre da vistosa igreja de Dois Córregos”.
Fonte: Arquivo Histórico – "A Comarca de Pederneiras"- Nº. 72 - 1 de Julho de 1928 - Prop. e Editores Resp. Silva & Comp. / - Centro Cultural Izavam Ribeiro Macário.
Pesquisas: Rinaldo Toufik Razuk.