A Energia Elétrica em Pederneiras
No início do século XX, a iluminação era feita a gás (de carbureto) ou querosene. Cada residência tinha sua iluminação própria, tanto dentro como fora e na rua, cada morador cuidava do seu lampião.
Por volta de 1910, na gestão do prefeito Cândido de Camargo Serra, quando a cidade já abrigava uma população regular, a energia elétrica chegou à Pederneiras cedida por A. Pena & Cia. de Agudos, que produzia energia próximo a cidade, no Ribeirão dos Patos, onde havia uma pequena queda d’água que movimentava uma usina hidrelétrica que produzia 40 HP.
Em 1927, a Companhia Paulista de Força e Luz comprou a companhia elétrica de Agudos e passou a fazer o fornecimento de energia em Pederneiras. Após alguns anos o fornecimento era precário, chegando ao ponto de ficar de três a quadro dias sem o fornecimento de energia. Nas ruas já havia rede de iluminação, mas estado precário.
Foi então que um grupo de fazendeiros e industriais da época se interessou pela energia elétrica em Pederneiras, surgindo assim a idéia de construir uma usina hidrelétrica, sob a liderança de Antonio Florêncio Pereira. O objetivo deles era ter energia elétrica em suas propriedades. Nessa época, os interessados já possuíam propriedades rurais bem instaladas, com máquinas de beneficiamento de café, arroz, algodão e olarias.
Em setembro de 1927, foi fundada uma sociedade por cotas, denominada Empresa Força e Luz Pederneiras Limitada. Cada cota tinha o valor de um conto de réis. A empresa possuía 12 acionistas, com um capital inicial de 300 contos de réis.
Os acionistas eram Antonio Florêncio Pereira, Mario de Barros Camargo, José Razuk e Irmão, José Augusto de Carvalho, Antônio Ferraz Prado, José Comegno, Attilio De Conti, Josino Florêncio Pereira, Pedro Copedê, Pedro da Costa Sampaio, Dário Beltramini, Michel Neme e Cia. e Francisco Razuk e Irmãos.
Em troca da concessão do local da usina, Antonio F. Pereira exigiu o direito de receber até 30 HP de energia gratuita para abastecimento de sua propriedade. A construção foi iniciada após a assinatura do contrato social, em 27 de agosto de 1928. Era uma construção arrojada para a época, com canal de 500 metros, com cinco de largura por quatro de altura, e a casa de máquinas. Tudo construído a pás e picaretas, com carroças puxadas por burros no transporte de terra.
Os geradores e transformadores foram adquiridos em São Paulo, através da Siemens Schukert. Foram importados da Alemanha e transportados até Pederneiras pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Ao chegarem a estação, foram transportados até a Usina Lageado por um caminhão Ford, de propriedade de Romão Torres.
Devido à inexperiência dos encarregados da construção da usina, houve o rompimento de uma das paredes laterais da casa de máquinas, levando tudo água abaixo. Mas Antonio Florêncio Pereira e os sócios não esmoreceram e continuaram procurando recursos, pois os prejuízos foram grandes. Sr. Antonio empenhou nesta obra muitos de seus bens, endossando os empréstimos.
Sob a orientação do engenheiro Walter Ashauer, de São Paulo, foi realizada a recuperação da usina e essa passou a funcionar normalmente. A assinatura do contrato entre a Empresa de Força e Luz Pederneiras e a Câmara Municipal aconteceu em 5 de Setembro de 1929. Nesta ocasião, o prefeito municipal era o Sr. Serafim Ferreira dos Santos. Ficou fixado no contrato que a empresa deveria instalar postes e fiação até o dia 30 de Junho de 1930, sob pena de pagar uma multa de cinquenta contos de réis, mais dez contos de réis por mês que exceder a inauguração dos serviços contratados.
A energia era fornecida à cidade em sistema de livre concorrência, isto é, podia ser fornecedor de energia a Empresa de Força e Luz como a Companhia Paulista de Força e Luz. Pederneiras então passou a ter energia à vontade, fazendo serviço completo às residências, à iluminação das ruas e ao fornecimento às indústrias.
Nas ruas havia duas linhas de energia. De um lado a Companhia Paulista de Força e Luz, e de outro, a Empresa Força e Luz Pederneiras Ltda. Por volta de 1935, a Empresa Força e Luz passou a fornecer energia completa à cidade.
Com o crescimento da cidade, a empresa responsável pelo fornecimento de energia elétrica não produzia o suficiente para o consumo, visto que sua capacidade geradora continuou a mesma. Por volta de 1940 foi arrendada a Usina dos Patos para distribuir energia paralelamente com a Usina do Lageado.
Nessa época, a Empresa pensou em aumentar sua capacidade, fazendo assim pesquisas no Rio Tietê, abaixo da atual Usina de Bariri, onde na época localizaram a corredeira “Tombá Piririca”. Então a empresa conseguiu do Governo Federal a concessão de aproveitamento do desnível para construção da nova usina.
Por volta de 1960, o presidente da Empresa Força e Luz Pederneiras Ltda era Sebastião Florêncio Pereira, filho de Antonio Florêncio Pereira, que providenciou o andamento nos estudos para a construção de uma usina de maior capacidade.
Logo em seguida, o Governo Estadual entrou em entendimento com a Empresa Força e Luz de Pederneiras para ceder a concessão, pois planejava construir Usinas Hidrelétricas em toda a extensão do Rio Tietê. Em troca, o Governo Estadual cedeu grupos de geradores termo elétricos para fazer face à deficiência da empresa.
Os geradores fornecidos foram instalados e a empresa continuou seu fornecimento, mesmo sofrendo graves prejuízos, visto que a produção de energia com os grupos termo elétricos encarecia muito o custo do quilowatt. Esse prejuízo aconteceu porque os geradores eram movidos a diesel. Enquanto isso, o governo estadual desativou a Companhia Paulista de Força e Luz em algumas regiões do estado e em Pederneiras, a energia passou a ser fornecida pela Companhia Hidroelétrica do Rio Pardo (CHERP).
A empresa de Pederneiras aguardava pelo compromisso firmado com o governo estadual, sendo que esse daria participação na usina de Barra Bonita, o que não aconteceu. O resultado foi a desativação da empresa pelo governo estadual, autorizado pelo governo federal, de acordo com o decreto nº. 60.054, de 12 de janeiro de 1967. Em face deste, o governo estadual baixou o decreto nº. 47 de 25, de abril de 1967, declarando encampados os bens e instalações da referida empresa, autorizando a desapropriação da mesma pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica, que os entregou à administração das Centrais Elétricas de São Paulo (CESP).
Assim, a Empresa Força e Luz Pederneiras, após 40 anos de trabalho, encerrou suas atividades e a Usina Lageado foi desativada, visto ter sido inundada pelo represamento das águas da barragem da Usina de Bariri.
Atualmente, Pederneiras recebe energia elétrica produzida pela Usina de Barra Bonita que está construída no Rio Tietê, no trecho localizado no município de Barra Bonita, e é distribuída pela Companhia Paulista de Força e Luz (C.P.F.L.).
A presidência da empresa Força e Luz Pederneiras, quando de sua fundação, foi exercida por Antônio Florêncio Pereira, que permaneceu no cargo até seu falecimento, em 16 de abril de 1940. Foi eleito para sucedê-lo seu irmão Josino Florêncio Pereira. Com o falecimento deste, foi eleito o Sr. Sebastião Florêncio Pereira, que exerceu a função até a extinção da empresa.
FONTES: Luciana Pereira Pinheiro da Silveira – Maio 1984.
Pederneiras sua História e sua Gente- Francisco Neubern Penteado-1988.
Semanário “A Comarca”- Dir. Antonio Moreno- 6/10/1929.
Semanário “Comarca de Pederneiras”-Silva & Comp. - 9/9/1928.
Resumo: Rinaldo T. Razuk.